Ironman Triathlon

domingo, 19 de setembro de 2010

O Sonho que virou realidade - Ironman

Agora um pouco mais recuperado do Ironman tentarei descrever um pouco do que foi a realização de um sonho.

O Ironman para mim foi um projeto de vida que durou 2 anos. No início de 2008 com apenas 1 ano de triathlon falei para o Prof Alex que eu queria fazer o Ironman 2010, naquele dia parecia um sonho distante, mas plausível.
Lembro das palavras do Alex naquele momento, “Palhares, isso é o sonho de consumo de qualquer treinador, ter tempo para treinar um atleta.”

Uma das coisas que o Alex me falou foi o seguinte, você precisa aprender a fazer triathlon, não entendi muito bem quando ele me disse isso, mas ao longo dos anos comecei a entender.

Tudo o que podia dar errado comigo deu. Deixei cair gel na bike, e havia levado gel contado, errei a bóia da natação o que me fez nadar mais de 50% a mais em uma prova, sai para correr sem o número da corrida, já sai para correr com capacete, demorei uma eternidade para colocar uma sapatilha e por ai vai, ou seja, realmente aprendi um pouco, não o suficiente.

No final de 2007 sofri muito com um overtraining, é difícil de indentificar.

Em 2008 treinei muito pouco e fiz somente as provas no final do ano. Nesse mesmo ano terminei meu primeiro Long Distance (1900mts de natação, 90km de ciclismo e 21km de corrida).

Fiz esse long distance arrastando muito, sempre nadei mal e nadar mal no triathlon faz com que o atleta já saia cansado para o restante. Peguei temperaturas de 36graus na corrida, foram longos 21km.

O Ano de 2009 não foi muito ruim, fiz algumas provas e a inscrição para o Ironman que se esgotaram em 15 dias, as inscrições de 2011 terminaram ainda mais rápido, já garanti a minha.

No fim de 2009 decidi procurar um personal de natação e nadar na piscina do prédio onde eu moro. Era a única maneira que eu via de melhorar e sair vivo do Ironman. Eu pareço uma bigorna na água, tenho as pernas de ciclista o que torna a natação muito pesada, minhas braçadas pareciam de um bêbado desesperado no meio de uma poça d água em uma enchente achando que estava atravessando o atlântico fugindo de tubarões enlouquecidos, ou seja, ruim.

O Alex me indicou a Sophia, conversei com ela e no início de 2010 começamos a trabalhar duro.

De Janeiro a Maio treinei muito, mas menos do que deveria, conciliar treino, familia e trabalho é muito difícil. Em janeiro ja sabiamos que de Janeiro a Março seria a época mais chuvosa em alguns anos.

Começamos a treinar para o Ironman, eu e os Doutores Leonardo Borges e Gustavo Foronda.

Treinar para o Ironman é difícil, sozinho deve ser pior ainda, por sorte consegui grandes companheiros para treinar. Hoje depois de todo sofrimento do treino nos tornamos mais do que amigos.

Gustavo ja tinha experiência de um Ironman em 2008 e ambos fazem parte de uma equipe de corrida de aventura que nesse ano esta em primeiro lugar no circuito Adventure Camp. Eu por outro lado, tinha a minha larga experiência de uma medalha de ouro de uma corrida de saco quando eu tinha 5 anos de idade.

Os 5 meses não seriam fáceis, juntavamos a ansiedade de conhecer as planilhas, saber o que iriamos treinar e nos preocupavamos de onde treinar principalmente aos finais de semana.

Minha rotina de treino durante a semana era acordar as 4:00hs da manha e chegar as 4:50 na USP para pedalar ou correr, nadar a noite e aos finais de semana fazer os treinos longos de transição , que é pedalar e correr no sabado e pedalar muito aos domingos.

A natação a noite era mais complicada, a piscina não era aquecida, cheguei a treinar com frio intenso, ainda tem a questão de disponibilidade, a noite tive que cancelar algumas aulas por causa do trabalho, e também a noite eu estava muito mais cansado. Mas graças a paciência da Sophia melhorei muito minha natação. Quando comecei a ter as aulas, mal conseguia nadar 750m, em muito pouco tempo ja fazia 3000mts por aula.

Em abril eu ja não aguentava acordar as 4:00hs, as vezes 3:30hs para treinar, ja estava cansado e com o outono chegando no meio de Abril fiquei doente, tive que entrar no antibiótico por 7 dias.
7 dias de antibiótico significa 7 dias sem treinar e mais 7 dias treinando se recuperando.

Todos estavamos muito cansados, nosso pico de treino foi no último final de semana de Abril e o primeiro final de semana de maio.

No último final de semana de Abril tinhamos 80km de pedal no sabado mais 34km de corrida e no domingo pedalamos 205 km. Mais um companheiro havia se juntado a nós. O Guga. Quando estavamos com 170km de pedal havia acabado minha água, quando chegamos em um posto de gasolina, 30km depois, quando completavamos 200km eu tremia de sede, nunca havia sentido algo parecido. Pegamos a água e fomos até o posto ao lado do Hopi Hari na bandeirantes, onde a minha esposa Fernanda nos aguardava com 3 latinhas de cerveja. Tomamos cerveja e comemos queijo meia cura, foi a melhor cerveja que eu tomei na minha vida.


Primeiro final de semana de Maio era semana da Maratona de São Paulo, decidimos então pedalar os 220km no sabado e pedalar 100km no domingo e fazer os 36km de treino dentro da Maratona de SP. Ja estavamos muito cansados com o rítimo de treino, no sabado só conseguimos pedalar 180km dos 220km. Lembro bem nesse dia, entramos no meu carro para ir embora no km 125 da Rodovia dos Bandeirantes. O Leonardo se mostrava muito cansado, então comentei que ele podia dormir que eu dirigia, ele comentou que não conseguia dormir no carro, a foto ao lado mostra o resultado do treino.


No domingo de manha chegamos na USP as 4:00hs, Eu, Leonardo, Guga e Carlos Ney, que não ia fazer o Ironman, mas nos ajudou muito a treinar. Se você não marca com alguêm as 5:00am para treinar, você não sai da cama. E o Ney, vulgo Pulga, me ajudou muito.

Depois de uns 30km, chegou o Jr, e mais alguns KM, surpresa, o Leonardo parou e falou que não estava bem, ou seja estafa de treino, ja haviamos sentido isso algumas vezes, mas dessa vez foi dura.

Fizemos os 100km de pedal e fomos para a Maratona de São Paulo. Ney deixou eu e o Guga na Largada e saimos para correr com mais um amigo, o Igor. O Igor correu só até os 10km da maratona que era o treino dele, mas nos deixou uma lição, palmito corre. Ele muito branco sem camisa correndo, algumas meninas olharam para ele e gritaram, nossa, palmito corre, nos deixou mais animado.

O treino era correr até o KM 36 da maratona, saimos eu e o guga para correr. Muita gente animada correndo, seguimos com o nosso rítimo. Passando o km 25 que era uma das chegadas dessa prova reduziu bastante a quantidade de pessoas correndo. No Km 26 pegamos um copo de cerveja de alguns torcedores que estavam sentados em um bar no caminho. Era impressionante a animação e a alegria desse pessoal quando nós aceitamos a cerveja, até um deles gritou "Eu sabia que você estava com sede!!!".

Chegamos acabados no KM 36, tempo de 3:40, o que me deixou animado, será que eu conseguiria fazer a maratona do Ironman abaixo das 4:30hs? Seria muito bom.

As próximas 3 semanas me reservaram surpresas. O Frio havia chegado o que desanima mais nos treinos, a natação cheguei a nadar tremendo o tempo todo e aprendi uma coisa nova, com quase 1hs de natação eu começava a ficar com muito frio, era hipoglicemia. Então com 40minutos comecei a me alimentar o que melhorou. Em um dos dias resolvi nadar 3800mts na piscina, consegui 1:26hs. Se eu conseguisse fazer esse tempo no ironman, para mim estava ótimo.

Nas semanas de treino de recuperação e polimento treinei menos do que deveria, muito trabalho, frio e cansaço. Trabalhei alguns dias até as 3:00hs da manha o que impossibilitou de eu treinar alguns dias.

Esse Ironman teve um gosto especial, a filha do Leonardo estava para nascer, nesse último mês ficamos ansiosos, porque se a Maria Luiza não viesse ao mundo até o Ironman, o Leonardo ja nos havia avisado que não faria a prova. Dia 26 de maio Maria Luiza veio ao mundo com pouco mais de 2900gramas pelas mãos do Gustavo. Mãe, filha e pai passavam bem! Parabéns a toda a familia.

A semana do Ironman finalmente chegou. Mas não era um alívio.

No Domingo antes da prova chuva tive que treinar no rolo em casa, o Jr treinou comigo.

Eu viajaria para Florianópolis na quarta feira. Segunda e Terça foram bem difíceis, me alimentei muito mal porque haviam algumas pendências de trabalho que eu não poderia deixar para trás, não almocei direito e também não consegui treinar, mas tinha em mente cumprir meus treinos da planilha chegando em florianopolis.

Chegou a quarta feira, rodizio do meu carro, tive que sair de casa as 6:00hs da manha e pegar a estrada sentido Florianopolis, eu havia carregado o carro no dia anterior, fui deitar as 1:00am e acordei as 5:00am.

Peguei a estrada, 750km para vencer de carro. Acordei com uma ronquidão no peito, pensei não ser nada muito sério, fiz a maior parte da viagem sem ar condicionado para não piorar o meu quadro. Chegando em Florianopolis não me sentia 100%, pedi para a Fernanda procurar na internet um pneumologista, consegui marcar para o fim da tarde.

Chegando no Jurerê Internacional, palco do Ironman Brasil comecei a ficar animado. Em um filme chamado Muppets do Espaço, o Gonzo fica muito feliz ao encontrar os outros da sua espece. Foi a mesma sensação que eu tive. Na estrada haviam atletas pedalando, na rua próximo ao principal centro do evento pessoas correndo. Atletas com camisetas de Ironman do mundo todo, Nova Zelandia, Phoenix, Brasil 2006, 2007, 2008, 2009, Kona e por ai vai.

Chegando na casa que alugamos ao sair para ir ao médico ja me encontrei com os meus irmãos de coração, Marcio e Ninja, meus amigos irmãos do pára-quedismo foram me prestigiar nessa prova. Fiquei muito feliz com o comparecimento, Marcio, Luiza, Laurinha (sobrinha linda), Ninja, Tamyres, Abrahão, Armandinho, Lu, Daniel e a mais nova manicaca Paloma. A torcida era grande!

Fui ao médico, resumindo, não tinha nada nos pulmões mas o médico não queria me dar nenhum medicamento com medo da prova. Dos 30 minutos de consulta foram 20 minutos tentando explicar a ele o que era o Ironman e respondendo perguntas sobre a prova.

Voltando para casa parei para jantar com Marcio, Ninja, Luiza e Laurinha. Depois do Jantar fomos jogar Guitar Hero. O Marcio tentou jogar por 4,5 segundos, enquanto o ninja me humilhava. Ficou tarde e cada um foi para a sua pousada.





Pouco antes de ir para a cama, começa o meu pesadelo, começo a tremer de febre. Mal consegui tomar uma aspirina e deitar na cama, fiquei mais de 3 minutos tremendo muito, mal conseguia me mecher. Consegui pegar no sono, depois de 1:30hs levantei e fui tomar um banho morno para tentar baixar a febre. Chegou em mais de 39graus.


No início pensei ser um pouco psicológico porque ja havia acontecido antes em provas importantes. Mas dessa vez não era.

Os dias que se seguiram foram difíceis. Eu esta ansioso para a prova e eu não melhorava, tomei todo tipo de medicamento possível e nada de melhora.

Fui buscar os Doutores no aeroporto, Leonardo e Gustavo, a mãe e o pai do Leonardo haviam ido prestigiar a prova, muito simpáticos por sinal.

Ja era sexta feira, fomos buscar os kits dos doutores e aproveitamos para nadar. A noite fui buscar minha esposa Fernanda e meu filho Gustavo no aeroporto. Estavamos quase todos juntos, só faltava o Junior, o Alex nosso treinador e o Pai do Alex Sr Paulino, que chegariam no sabado.

Agora com muitas pessoas por perto ficamos mais descontraídos, jogamos Guitar Hero muito, o Gustavo meu filho junto com Gustavo Foronda e o Leonardo, sei que i Foronda joga GH até hoje com os filhos, é muito divertido.

No dia seguinte (Sabado) fui buscar o Junior, Alex e o Pai do Alex no aeroporto. Ficamos todos juntos no sabado, fomos a feira do Ironman, o Junior como conhece todo mundo parava em todos os standes.

Enfim, o grande dia estava chegando.

O Check-in das bikes e dos equipamentos é no dia anterior, ou seja no sabado, eu havia feito um checklist para não esquecer nada, esse check list foi feito durante 1 ano de treinos e provas.

Eu não estava nervoso, até que ouvia a seguinte pergunta. "Você não esta nervoso?" Essa pergunta se repetia como se fosse um disco quebrado, quem era? Junior, ele me deixou nervoso, eu estava junto com ele em um quarto minusculo arrumando minhas coisas e com certeza essa hora ele me deixou nervoso. Mas passou.

Fomos para o check-in da bike, fizemos o check-in, aprendemos como funcionava as sacolas, as transições.

Depois casa, janta e tentar dormir.

Levantei as 1:00hs da manha para tomar o primeiro café da manha, 1000calorias, Banana, Pão, Ensure. Depois mais sono.

Acordei as 3:30, Leonardo e Gustavo ja haviam acordado, tomei um banho e novo café da manha. Eu estava me sentindo bem, achando que aquele mal estar com febre era coisa do passado, mas eu pagaria caro por isso.

Haviamos combinado do Guga nos buscar, porque a Fernanda iria mais tarde com o restante do pessoal.

A Largada era as 7:00hs, com o nascer do Sol, mas precisavamos chegar mais cedo para completar as sacoas com kilos de lanche e água. Um bom aprendizado, o Ironman não é no deserto sem apoio de água ou comida. Não é necessário levar tanta coisa.

O Guga chegou no horário combinado, fomos para o local da largada, vestimos as roupas de borracha. Na área de transição parecia uma cena de guerra, lembro bem de um filme chamado Black Hawk Down, quando no quartel os soldados se preparavam para entrar nos helicópteros Black Hawk antes de sair para a batalha. Olhei para o lado e vi as pernas de um atleta tremendo, pensei que era nervoso, mas na realidade ele estava usando um estimulador elétrico na perna. Fila no banheiro, alguns brancos de passar protetor solar ou alguma outra proteção para a pele.

Ainda estava muito escuro. Notei ainda no carro que eu havia esquecido meu relógio passei um sms para a Fernanda e outro para o Alex pedindo para trazerem meu relógio, haviamos combinado de nos encontrar na largada. Depois vimos que isso é quase impossível.

Fomos andando até o local da largada, havia uma multidão de pessoas entre atletas e acompanhantes, impossível achar alguêm, todos de preto e toca branca.

Chegamos a praia e por um milagre qualquer passamos pelo Alex que estava com o meu relógio. Lembro bem que o Alex estava com os olhos bem arregalados, mal falava. Depois fiquei sabendo que era porque ele estava preocupado em nos achar no meio da multidão. Naquele momento em diante não vi mais ninguêm conhecido, fui para a parte de trás da largada e ja tremendo com a adrenalida a toda resolvi fechar os olhos e me desligar daquele local.

Lembro bem das palavras do locutor da prova que me marcaram para sempre. "Agora é a hora de vocês atletas, colocarem em prova todo o sofrimento, todas as privações que vocês tiveram durante o treino, só de vocês estarem aqui ja são Ironman." Até hoje quando lembro disso, me da um arrepio e lágrimas nos olhos, porque o treinamento para o Ironman é muito sofrido.


Assim que o Sol apareceu tocou a buzina da largada, sempre fico no grupo mais do fundo para não tomar pancada dos outros nadadores. E caimos na água...


Eu havia feito um simulado na piscina e havia nadado os 3800metros em 1:26. Imaginei nadar no mar em 1:40, eu não sou um bom nadador, sou teimoso.


Fiz a primeira perna da natação em um rítimo confortável sai da água e me senti um pouco pesado. Vi o Abrahão gritando o meu nome, tomei um Gel, Gatorade que a prova fornecia e voltei para a água. Pela primeira vez eu me senti bem voltando para a água, o que no meu caso não era um bom sinal.


A segunda perna é muito mais batida que a primeira pricipalmente a volta para a terra. Engoli muito mais água do que na primeira perna, sai da água exatamente em 1:26, achei o meu tempo excelente, fiquei animado.

A saída da água até a área de transição é muito longe, parecia que tinha uns 2km, claro que não era isso, mas era longe.

Peguei minha sacola, a visão da guerra novamente veio a minha cabeça, atletas se trocando, havia um staff da prova com um equipamento parecido com os de colocar veneno nas plantas, só que era protetor solar.

Sai, peguei a bike e saí me achando o melhor atleta da prova, vi a Fernanda o Gustavo, meu filho e o Alex logo na saída do pedal e fui para a estrada. Logo na segunda curva quase caí. Ufa, calma, ainda faltam 180km.

Parecia que eu estava com uma barriga extra, estava pedalando bem, 32km/h a média, queria ficar em 30km/h a média, para o começo da prova estava ótimo. Até que veio a primeira subida, e que subida. Eu sempre pedalei bem em subidas, mas dessa vez parecia ter alguma coisa errada.

Erro 1 - O pé de vela que eu estava usando não era o do treino.
Erro 2 - As rodas que eu estava usando, eram rodas de carbono usadas. As rodas de carbono devem fazer efeito só acima de uma certa velocidade.
Erro 3 - Havia eu, a bike e mais comida para um batalhão comigo, eu estava muito pesado.

Eu percebo esses erros hoje e não na hora.

Comecei a passar muito frio, tirei o manguito do bolso e coloquei, eu ainda estava molhado. Mas ajudou.

Assim que eu desci da primeira ponte, uma cena que não esquecerei, um atendimento médico com um atleta desmaiado. Logo no começo? Na curva de uma ponta de alta velocidade. É uma pena.

Quando cheguei na área dos túneis, uma surpresa bem desagradável, vento, muito vento. Como eu sofri nesse trecho de pedal. Parecia que não acabaria nunca. Eu não conseguia me esquentar e nem comer nada, só tomar alguma coisa, fiz os primeiros 90km de pedal me arrastando muito. Eu não estava me sentindo nada bem. Existem dias bons e dias ruins, definitivamente eu estava em um dia ruim

Da metade da primeira volta de ciclismo até o final do ciclismo eu ouvia na minha cabeça, "Pare, pare, pare, pare" e eu "Não vou parar, não vim até aqui para nada, tenho meus amigos, minha familia me esperando na chegada" E pedalava mais um pouco. Esse pensamento durou até o final do ciclismo.

Eu queria ter feito o ciclismo entre 5:30hs e 6:15 no máximo, fiz em 7:00hs. Para mim uma vergonha, mas dei graças a Deus quando deixei a bike e sai para a maratona.

Na saída para a Maratona encontrei com o Alex e o Armandinho, o Alex perguntou como eu estava e me orientou o que fazer dali para frente.

Engatei minha velocidade de cruzeiro e fui em frente. Entre o Jurerê Internacional e Canavieiras, não tem uma subida, é um morro. Não sei porque a organização coloca esse trecho, além do que o posto de hidratação é muito distante um do outro nesse trecho.

Após fazer praticamente uma escalada, eu estava pensando em andar quando encontro no meio do nada o Pai do Alex, Sr. Paulino, me animou muito. Sr Paulino correu uns 10 minutos ao meu lado conversando com uma blusa na mão, inesquecível. Ainda estava de dia.

Completei os primeiros 21km de corrida bem, ainda faltavam 21km, mas agora é só plano.

Corri os próximos 21km me arrastando muito, passamos pelos PC 2 vezes, nos primeiros 21km, depois em 10,5km e depois a chegada. As duas vezes que passei pelo PC encontrei as pessoas conhecidas, minha esposa, filho, treinador e amigos sempre me incentivando.

Cada vez que eu passava pelo Jurerê internacional, a Fernanda Keller vinha correndo olhar o nome de quem estava correndo e gritar para continuar.

Andei muito nessa prova, as pernas simplesmente não andam, param, por mais que eu treinei, me preparei, tudo é diferente. A temperatura, o piso, a disponibiliadade de líquidos e alimentos, tudo diferente.

Quando olhei para o final da Av dos Buzios onde é o clube 12 de agosto, ja estava bem tarde, poucos atletas ainda correndo e aquela linha que parecia interminável de luzes de rua.

Quanto estava no meio do caminho Alex se juntou a mim, um pouco antes eu tirei a blusa para poder chegar com a camiseta da equipe.

O Professor Alex, andou e correu comigo esse trecho final, queria que ele fosse até a chegada comigo, mas não foi.

No final peguei minha esposa e meu filho nas mãos, corri os últimos metros do Ironman e tudo veio a cabeça naquele momento, todo o sofrimento, todo treino todas as privações que um atleta tem que abri mão para conseguir chegar a um objetivo.

Terminei a prova beijei a esposa e filho e fui para o atendimento médico, nada demais uma massagem, pegar medalha camiseta e meus ítens.

Lembro de um atleta na área de trasição para o outro. "Você não vai pegar a sua bike?", Resposta: "Vou jogar aquela m¨%$# fora."

Fiquei bem, muito vento e frio, fomos dormir.

Bem, esse foi o meu Ironman, aprendi muito com essa prova, e espero que meu aprendizado seja útil para todos que vão fazer o seu primeiro Ironman.

1 - Comer nos treinos exatamente o que vai comer no Ironman,
2 - Não leve muito peso, não tem necessidade,
3 - Não pare no primeiro special needs, deixe la somente roupas ou algum outro ítem que por ventura você precise, mas não precisa deixar alimento, é mais peso.
4 - Treine no horário da prova.
5 - Use a bike do treino, não mude não tente melhorar nada.
6 - E nade muito, mas nade direito, dem uma olhada no site do Alexandre Ribeiro as dicas de natação.

Ja me inscrevi para o Ironman 2011 e planejamos fazer um Ultraman em 2014.

Gostaria de terminar esse relato com meus agradecimentos.


Primeiro agradeço a Deus que esteve ao meu lado tanto nos treinos quanto na prova.

Aos meus pais e minha irmã que torceram muito por mim, no dia das mães eu treinei sozinho e não pude ir visitar minha mãe.
A minha esposa e meu filho que abriram mão de muito tempo comigo para eu poder treinar.
Ao meu fiel companheiro de treino Junior, lindo, estaremos juntos no IM 2011.
Fernando, que todo dia dava uma palavra de incentivo.
A todos que estiveram em Floripa para incentivar, meu irmão Marcio, Luiza e Laurinha que vieram de tão longe para dar apoio. Sr Paulino,
Ninja, Tamyres, Abrahão, Armandinho, Lu, Daniel e
Paloma.
Ao meu treinador mimoso Emo Alex Busnello, seu treino, incentivo e puxadas de orelhas.
A Sophia minha treinadora de natação.
Wilson e a Denise que eram meus treinadores de natação antes da Sophia.
Aos meus colegas de equipe que sempre incentivaram.
A todos que em qualquer dia treinaram comigo, fazendo compania, em treinos longos e difíceis.
Ao Cidão, eta Cidão, se não manda-se eu a 12 anos colocar o tênis e sair correndo, hoje eu não teria tantas conquistas.
Charles Ney que chegava de madruga só para fazer compania.
Em fim tem muita gente que de algum jeito ou de outro me incentivaram ou deram alguma dica.
Sozinho ninguêm faz um Ironman.

IM 2011, e Ultraman 2014, estaremos lá.

20 comentários:

  1. Pqp, lembro de cada dia que você descreveu mesmo estando só em 1% deles. Você tem a genética que a maioria não tem: genética para ter disciplina. Ironfellas, é nóis! abraço ae e Floripa 2011 estaremos lá, desta vez eu vou assistir!

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  2. PP! Muito orgulho de você! Que venham tantos outros desafios e que mesmo com as dificuldades seja possível vencê-los! Com apoio, carinho, dedicação e amor de todos! Afinal, você sempre consegue! rsrsrs Bjos, saudades

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  3. Palha, muito legal seu post, li tudinho e achei muito interessante, bom ler as sensações que experimentou, curto bastante isso, cada qual tem seu jeito de fazer as coisas! Te acompanhei no twitter e lia seus posts e pensava, ele não dorme!!!! Imagino o quanto difícil foi obter uma agenda para tanto treino, tendo de manter a peteca no trabalho e com a familia. Só posso te parabenizar pela conclusão da prova, te dizer que te admiro muito pelo seu esforço e dedicação e mais importante de tudo, sempre mantendo o alto astral. Que nos próximos Irons, tudo fique mais fácil ou melhor, menos difícil, devido a experiência conquistada! Um grande abraço e tudo de bom. Mário Mello

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  4. Grande Palha! 2011 estaremos lá mais uma vez!!! Parabéns pela conquista e pelo post... Muito legal poder ler em detalhes desde o começo até o dia da conquista. Um grande abraço amigão! Ass. Armandinho

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  5. Irmão, emocionante depoimento, fico feliz e orgulhoso, costumo citar vc como exemplo de determinação. Estaremos lá com você em 2011 e sempre que pudermos apoiando seu esforço. Abraço forte e força em 2011!!!

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  6. Paulo, meu amigo,
    Para quem é "de fora" essa historia vale um filme. Mais que uma superação fisica e uma superação psiquica. Só a preparacao para um desafio desse já é uma vitória. Vou seguir o teu blog.
    Parabéns.
    abcs
    Rick

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  7. Parabéns, pois não sei mas imagino o quanto você sofreu para alcançar esse seu objetivo. Saiba que suas palavras vão me ajudar bastante no meu objetivo que é o Ironman 2012.
    Parabéns você é um verdadeiro Ironman.

    Abraços,

    Zander Ferreira
    Rio de Janeiro

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  8. Nossa... que demais foi ler esse post.... teve momentos que parecia sentir exatamente o que vc passou lá na prova. Esse ano vou fazer meu primeiro Duoathlon (3km corrida + 12km bike + 3km corrida). Já corri umas 4 rústicas. Tenho como plano participar do Ironman em 2014, se tudo correr bem até lá. Agradeço pelas dicas prestadas neste blog, que serão de grande valia para meus treinos.
    Parabéns pela conquista. Abraço!

    Fabrício Almeida
    São Luís-MA

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  9. Cara meus parabéns!!! Adorei ler a experiência! Dei muitas risadas e uma engasgada na parte que tu comenta "Da metade da primeira volta de ciclismo até o final do ciclismo eu ouvia na minha cabeça, "Pare, pare, pare, pare" e eu "Não vou parar, não vim até aqui para nada, tenho meus amigos, minha familia me esperando na chegada" E pedalava mais um pouco. "...
    Sempre que participo das corridas isto vem na minha cabeça, aí corro mais rápido ainda.
    Adorei!
    abraços
    Daniela Donadio, POA, RS

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  10. Parabéns! belíssima descrição dos treinos e do sofrimento que um atleta passa para alcançar seus objetivos.

    Para mim um atleta que completa o Ironman já pode ser considerado sobrenatural. Abç!

    Diego Yamada - Florianópolis SC
    diego.yamada@hotmail.com

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  11. Parabens meu caro!!!
    a ssua narrativa esta otima, perfeita e muito sincera, e ainda com um pouco de humor!!! Ri e chorei durante a leitura !! rsrs
    Te admiro so por ter se inscrito. Eu apenas corro, acabei de me tornar uma meia maratonista, e estou trablhando a minha mente para ingressar no triatlon em 2014 e quem sabe um dia, espero que antes dos 50 anos, pois ja tenho 34, me arriscar em fazer um Ironman como vc!.

    Sucesso e saude!.

    Abs,
    Herica.

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    1. Ola Herica!
      Muito Obrigado pelo seu comentário e o seu incentivo.
      Você sabia que 21km é a distância perfeita? Em que você não cansa demais e mesmo assim quebra suas barreiras?
      Alguns estudos dizem que o corpo humano foi desenvolvido para correr 21km, acima disso ja esta fora da natureza.
      Eu quando comecei a correr corri 800 metros e quase morri, hoje minhas distâncias são bem maiores que os 800 metros. Em breve você correrá sua primeira maratona e os nossos desafios são vão aumentando. Eu ouvi em uma propaganda do History Channel que o desafio do ser humano é ultrapassar seu último desafio. E eu complemento que uma vida sem desafios é uma vida vazia. Em breve teremos um post seu aqui do seu primeiro Triathlon!
      Vida Longa e Próspera!
      Abraço

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  12. Muito Show O aprendizado, Esse ano comecei treinamento para o iron mas tenho um tempo de 5 anos para fechar bem a prova. Estou lendo aqui e anotando TUDO!! Abraços!

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    1. Ola Gil,
      Muito obrigado! Posta as suas experiências aqui também.

      Abraço

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  13. Me emocionei com seu relato! Parabéns!!!

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  14. Paulo, teu relato é emocionante! Parabéns pela dedicação e pelo esforço!
    Lembrarei sempre daquilo que Você escreveu aqui nos meus treinos!

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    1. Ola, muito obrigado por participar do blog!
      Espero que as dicas te ajudem
      Abraço

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